Um homem, uma quarta

O relógio acabava de marcar 6 horas da tarde de quarta-feira, ele ainda não sabia o que faria naquela noite. Todos os seu planos se resumiam a um campeonato de pôquer e quem sabe uma esticadinha em alguma festa, ou até mesmo uma casa de shows bastante sensuais (dependendo do resultado do torneio).

De repente o telefone toca:
- Fala seu viado...
- Fala aí o pança... (como é bonito quand dois homens têm intimidade)
- chegando em Floripa já que nosso time joga aí...
- Demorô, chegas que horas?
- Lá pelas 8 eu apareço, vamo no jogo?
- Já é!!!
- Beleza! Falou!

A essas horas, o campeonato de pôquer já ficou pra trás, todas as fichas colocadas em um all-in, jogando como se fosse um jogador de 12 anos de idade, mas nada se comparava a assistir o seu time do coração lutando pela liderança do campeonato.

Se arrumou com esmero, pôs sua melhor bermuda, vestiu a camisa como se fosse um manto, pegou sua bandeira, rezou um pai nosso, e se mandou para o estádio com sua mochila. Chegando lá, encontrou amigos que há muito tempo não via, bebeu algumas cervejas, provocou a torcida adversária, que não estava contente com o seu time. Essa hora todos os seus planos era ver o seu time líder do campeonato, era ter a sensação de que seu time de várzea tornara-se grande. A preocupação em ir à balada ou à zona já não existiam e assim se pôs portão a dentro.

Seu time estreava um novo uniforme, uma pequena lágrima escorria pelo canto do olho. Era, como se para ele, seu time tivesse escolhido uma roupa especial para visitá-lo; parecia que a equipe se preocupava com ele o mesmo tanto que ele se importava com o time.

Quando o time entrou em campo, sabia toda a escalação. Tinha algumas substituições a fazer na equipe, mas tudo não passava de pitaco. Foi conversar com todos da arquibancanda, até mesmo o vendedor de cerveja, que naquele momento tinha um brilho nos olhos, com a sensação que venderia todo seu produto.

Comprou 1 garrafa de cerveja e se instalou naquele que seria o melhor lugar para assistir a redenção da sua equipe. Passados quinze minutos, uma outra cerveja. Queria comemorar o bom momento do seu time no jogo e no campeonato. A vitória parecia ser o resultado mais justo.

Cantava, gritava, agitava, e o time ia embalado em campo. Mas, aos 23 minutos do primeiro tempo, um banho de água fria. O time da casa abria o placar com uma bola dada de presente pela zaga, daquela amada equipe para a qual o mesmo se vestiu, se penteou, se esmerou.

O jogo continuava bom, a sua garganta nem tanto, mas mesmo sem voz pode comemorar um empate quando o relógio marcava o minuto 35. Subiu na grade, abraçou seus amigos suados, beijou a careca de um amigo. Demonstrou todo seu amor pela torcida, como se fossem seus parentes ou até mesmo as mulheres que sonhara no início da noite.

No intervao, aproveitou para ir ao banheiro, buscar mais uma cerveja, fazer uma mandinga, elogiar o técnico, esboçar um esquema tático, cumprimentar os outros 28 membros da torcida organizada que ainda não tinha cumprimentado. A voz não existia, mas a sensação de que iria ver a vitória de seu time reinava sobre o seu ser. (O jogo já deveria estar pelo menos 3 a 1).

Fôlego recuperado, ele sentou no mesmo lugar que estava no primeiro tempo, assistiu uma volta apática de seu time, pareciam estar cansados, desanimados, abatidos. O jogo acontecia, e o time da casa estava melhor que o seu na segunda metade do jogo. Uma bola na trave pra cada lado, para levantar as torcidas e nada mais acontecera naquele apático final de jogo.

Aos 48 minutos, bate rebate na área e um gol para calar a torcida visitante. Gritava, como se tivesse perdido um ente querido, xinga todos os jogadores daquela zaga,chuta o alambrado, machuca seu pé; soca a parede, machuca sua mão; sai quase que chorando do estádio. Esquece as mulheres e as festas, e se resume a curtir seu luto entre as quatro paredes do seu quarto.

Parecia humilhado, era como se zombássem dele, de seu amor. Tudo que fez ao seguir das horas foi deitar, dormir e se preparar para o rotina do dia-dia, mesmo com seu mundo arrasado, em poucas horas tinha que estar de pé e trabalhando, pois como diria o Paulo Alceu: "A vida segue..."

Comentários

Anônimo disse…
Excelente seu texto,era como seu eu estivesse lá...rs...rs...muito bom, apesar de que eu já fui assim tambem com relação ao futebol, hoje ando afastado, ainda gosto muito, mas o estadio de futebol me desanima um pouco...fico em casa....mas amigo, venho agradecer sua visita, seu comentario, obrigado, a LU realmente é uma amiga, adoro o blog dela, é muito bom passar por lá e ler seus textos atentamente...seja bem vindo ao Livro, volte sempre que puder ou quiser...forte abraço e uma otima tarde pra ti...
Anônimo disse…
A vida segue... e segue mesmo... eu que o diga que sou Figueirense (hahahaha). Adorei a sua crônica, Fábio! Você soube mesclar o torcedor apaixonado que também têm outras outras prerências, como o pôker, mulheres, cerveja...
E, como ou bom bom torcedor que ama o seu time, curtir uma "fossa" pela derrota.
O bom disso tudo é que sempre tem o próximo jogo, não é?
Beijão!
Bela crônica!
Anônimo disse…
Muito bom o seu texto.Senti como se estivesse lá.Sou torcedora e sei o que é isso.

A Luciana que indicou seu blog.Gostei muito.
Bjs!
Unknown disse…
Oi Fábio...

Confesso que futebol nao é meu tema preferido, mas ainda assim, tenho que te dar os parabéns pelo texto muito bem escrito e dizer tb que as paixões fazem isso:Quando as coisas não saem como esperamos nos frustramos e vamos ao fundo do poço. Mas como NADA é para sempre outros dias virão e com eles outras chances de vitória!rs...

Bem...Um dia é da caça e outro do caçador!

Beijinho
Maria Dias disse…
Essa foi!Fabio, o Marcos Phillip aí de cima na verde sou eu a Maria do avesso...rs...
Quando fui comentar nao percebi e estava com o nome do meu filho(as vezes acontece isso pq ele tem uma conta no gooogle)me desculpe tá?rsrsrs...

Beijinho
Anônimo disse…
Ohhhhhhhhhhhh ... depois de meses encontrando NADA por aqui, vejo muitas novidades!!!
Teus textos são ótimos, escreve sempre, tá?!
Nosso almoço de quinta está confirmado!!!!
Beijão
Anônimo disse…
Passando pra desejar um otimo dia pra ti amigo...abraços...
Lilith disse…
Não achei que torcedor sofresse tanto.
Mas é isso aí cara "A vida segue..."

Show de bola seus textos,rs!
Obrigada pela visita.
bjs
JC disse…
Fabio obrigado por teres passado pelo meu blog. Podes linkar à vontade.
Gostei do que li no teu e voltarei.
Um abraço
Oscar Joseph disse…
Antes de mais nada, estou aqui para retribuir a visita. E qual não é minha surpresa ao ver que o texto da vez é sobre futebol. Muito bom! Gostei, pois me lembrei da época em que acompanhava "in loco" o meu time do coração (agora só pelos canais PPV ou pela internet). Tomei a liberdade de incluir seu blog nos favoritos do meu, ok? Quando quiser, apareça. Um abração.

Postagens mais visitadas